Especialistas defendem regulamentação de produtos alternativos ao cigarro no Brasil

Ações de redução de danos implementadas pela Suécia poderiam salvar 3,5 milhões de vidas

Especialistas, profissionais da saúde e consumidores de  várias  partes do mundo se reuniram em São  Paulo, nesta quinta, 11 de maio, para debater iniciativas de redução de danos no primeiro Seminário Sul-Americano de Redução dos Danos do Tabaco. Para os palestrantes, o Brasil deve priorizar e encarar com urgência a regulamentação de produtos alternativos ao cigarro tradicional, como os cigarros eletrônicos e sachês de nicotina. Durante as mais de sete horas de debates, os palestrantes trouxeram cases que podem ser replicados em outros países. Um deles foi a experiência da Suécia, que já teve 49% da sua população masculina fumando regularmente, e que alcançará a marca de país “livre do fumo” ainda em 2023.

Os especialistas apontaram que o país só alcançou este marco porque, durante as últimas cinco décadas, tem progressivamente e sistematicamente criado alternativas sem fumaça e menos prejudiciais ao tabagismo, acessíveis e aceitas pela população. “O Brasil tem potencial e estrutura para ser o próximo país livre de fumo. As ações de redução de danos promovem alternativas mais saudáveis para fumantes e apresentam resultados positivos em todos os lugares onde foram implementadas”, explica o Dr. Delon Human, um dos organizadores do evento.

Derek Yach, ex-diretor executivo de doenças não transmissíveis e saúde mental da Organização Mundial da Saúde (OMS), defendeu que a regulamentação só pode ser feita com todos os representantes da sociedade, inclusive os consumidores. “O Brasil tem boas políticas de redução dos tabagistas, mas precisa olhar com cuidado para a redução de danos e isso significa incluir todas as esferas da sociedade”.

A proibição de produtos como cigarro eletrônico pode ter efeito muito mais nocivo que a regulamentação, segundo Clive Bates, atual diretor da Counterfactual e ex-diretor da Action on Smoking and Health, organização do Reino Unido voltada à redução de danos do tabaco. “Proibir esse tipo de produto só os torna ilegal. Não diminui a demanda e não diminui o consumo”, conclui. Além disso, somente a regulamentação pode garantir a qualidade dos produtos que já são consumidos, registro de procedência e riscos reais das substâncias contidas nos produtos.

Outro ponto bastante debatido foi a diferença de riscos entre produtos com combustão,como cigarros tradicionais e sem combustão, como sachês e cigarros eletrônicos. “Existem campanhas ostensivas para igualar os riscos de produtos diferentes com tabaco, mas é preciso ficar claro que os cigarros eletrônicos são 95% menos prejudiciais do que os cigarros convencionais. É muito melhor para um fumante mudar para os cigarros eletrônicos ou para os sachês orais de nicotina do que continuar fumando.”

Ao apoiar essas opções sem fumo, como snus, um tipo de tabaco umedecido colocado sob o lábio superior para absorção de nicotina, saches orais de nicotina e cigarros eletrônicos, sua abordagem pragmática e esclarecida proporcionou ganhos sensacionais de saúde pública.

Se as taxas de mortalidade relacionadas ao tabagismo na Suécia fossem replicadas em outros países, mais de 3,5 milhões de vidas poderiam ser salvas apenas na Europa na próxima década.

Apesar da redução do tabagismo pelo mundo, esse problema ainda é responsável por mais de 8 milhões de mortes a cada ano em todo o mundo. Mais de 7 milhões dessas mortes são devidas ao uso direto do tabaco, enquanto cerca de 1,2 milhão são devidas à exposição ao tabagismo passivo.

O evento, que contou com seis mesas e mais de 25 palestrantes, foi organizado pela Aliança Pan-Americana para a Redução de Danos (PAHRA). A partir da política, da ciência e dos conhecimentos dos consumidores relacionados ao controle do tabaco e à redução de danos, foi incentivado o diálogo entre as várias partes interessadas para encontrar soluções para um dos problemas mais urgentes da sociedade.

O seminário será levado a outros países como Bélgica, África do Sul, Bangladesh e Suécia.